Dados da associação que representa o setor de bares e restaurantes mostram que quase metade dos estabelecimentos do país fez reajustes abaixo da inflação e 25% não aumentaram nada

No Brasil, o preço das refeições fora de casa está subindo menos do que a comida comprada no supermercado. Para manter a clientela, os comerciantes não estão repassando os reajustes.
A inflação pega os dois lados do balcão. Corrói o bolso do taxista que parou para o almoço e consome parte do lucro do restaurante.
O preço do lanche de carne de porco, carro-chefe da casa, não muda desde o ano passado. É para a clientela voltar.
“Já teve alguns, sim, que eu tive que deixar porque aumentou muito. Então a gente vem às vezes no que está mais próximo, o que está mais barato também porque não dá, aumentou tudo”, desabafa o taxista Felipe Monteiro.
Mas no mês passado, não deu mais para segurar o preço do cardápio todo. O gerente conta que repassou uma parte dos aumentos das refeições.
“A gente faz o preço para manter a clientela e não tomarmos prejuízo, então está difícil hoje repassar o total porque os aumentos estão sendo muito frequentes e com curto espaço de tempo”, explica o gerente Cícero Tiezzi.
Nessa busca para não pesar demais para um dos lados, a inflação da alimentação fora de casa anda subindo menos do que a do supermercado.
De janeiro a julho deste ano, a variação foi de 5,5%. Metade da inflação de gêneros alimentícios, justamente os produtos que a gente coloca no carrinho para consumir em casa.
Isso não quer dizer que comer fora está mais barato do que em casa. É que remarcar os produtos no supermercado é mais fácil do que mudar o valor que a gente compra pronta no restaurante.
O custo dos pratos já incorpora oscilações naturais dos preços dos alimentos - que podem variar, inclusive, dependendo da época do ano. É por isso que o valor cobrado no restaurante já dá uma margem de manobra para o dono do restaurante.
O economista do Ibre/FGV, André Braz, lembra que a refeição fora de casa é um serviço. No preço, estão embutidos salários de funcionários, gastos com energia, aluguel... entra tudo na conta.
“Existe um custo do menu, o custo dele ficar mudando o preço dele toda hora. Agora, é claro, quando a inflação é muito forte e persistente, e dura por muitos meses, aí de fato ele começa a ver uma redução de margem que pode tornar o negócio insustentável. Nesse caso, ele vai rever os preços do menu”, explica o economista.
Dados da associação que representa o setor de bares e restaurantes mostram que quase metade dos estabelecimentos do país fez reajustes abaixo da inflação e 25% não aumentaram nada.
“A renda do trabalhador está menor do que era há um ano e isso dificulta repassar os preços. Nós estamos com duas em cada três empresas operando sem lucro, 26% delas com prejuízo”, diz o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci.
Pelo movimento, ninguém diz, mas é o caso de um restaurante em São Paulo. A clientela não é nem metade do que era antes da pandemia. Para não fechar, a dona fez empréstimo, tirou dinheiro do bolso e diminuiu a equipe.
“Hoje eu fico no caixa, eu vou para a cozinha ajudar a cozinha porque não tenho condição de pagar funcionário para estar fazendo, então eu vou junto. É sobrevivência”, diz Maria Tereza Pereira Dias, dona do restaurante.
Fonte: G1